Lidiane
Melegario
Médica Veterinária da Vet Point
Formada há 16 anos em Medicina Veterinária pela UFF, em Biologia pela UERJ e Pós-graduada em Medicina de Felinos, Lidiane Melegario, aos 40 anos, casada, um filho, lamenta não ter tempo para se dedicar a um Pet como gostaria.
O motivo? Sua dedicação e seu amor à profissão escolhida lhe fazem refém por 12 horas diárias no interior de sua Clinica, a Vet Point, localizada na Trindade em São Gonçalo.
De educação esmerada, irradiante simpatia e paciência para ouvir sua enorme clientela de Tutores, se tornou uma espécie de Anjo da Guarda dos Gatinhos do nosso Condomínio, sempre pronta a atender e prestar suas orientações.
Apesar do seu escasso tempo, gentilmente concedeu esta Entrevista para Quinta Pata.
Todas as vezes em que tive a oportunidade de atender os felinos do condomínio Alcântara I, nunca me deparei com problemas comuns de pets não domiciliados ou errantes como ectoparasitos (pulgas, carrapatos, piolhos), sarnas diversas. Os cuidados são inegáveis e vão além de água e comida.
Há 16 anos o que a levou optar pela Medicina Veterinária?
Fui uma criança admiradora dos animais, mas fui despertada para a veterinária como profissão durante a exibição da novela Laços de Família, pela personagem da atriz Helena Ranaldi, quando prestei vestibular pensando na medicina de equinos. Ao longo da faculdade, concluí que o meu caminho era a clínica de pequenos animais e sou muito feliz pela minha escolha.
Como tem sido essa experiência de dedicar-se de forma intensa à sua Profissão e a busca pelo aperfeiçoamento profissional?
É muito cansativo e ao mesmo tempo gratificante quando a gente vivencia o que ama. Muitos dias, trabalho em um ritmo intenso, geralmente pulando refeições, e só percebo que o dia está acabando quando o motoboy do laboratório passa na clínica para recolher o material do dia. Não me imagino em outra profissão.
Faço o que escolhi e me dedico ao máximo, tanto no dia-a-dia quanto nas atualizações. Ficar estagnado, em qualquer profissão, é inadmissível, ainda mais com a velocidade das pesquisas e dos acontecimentos atuais. Ao final de cada ano, saber que o meu conhecimento é maior do que o ano anterior e que evoluí como profissional e como pessoa, dá um estímulo para continuar a caminhada.
Na nossa Região, você tem sido sempre recomendada quando se trata de animais de estimação. Que espécies você presta atendimento e quais serviços são disponibilizados pela sua Clínica, a Vet Point?
Já atendi silvestres, até porque sou veterinária e bióloga, e na época em que me formei tinham poucos especialistas, mas hoje encaminho essas espécies para esses profissionais. Hoje atendo cães e gatos, basicamente. As cirurgias são realizadas pela manhã e os atendimentos a tarde. A Vet Point realiza consultas de rotina e emergenciais, aplicação de vacinas importadas, procedimentos cirúrgicos, coleta de materiais para exames diversos (encaminhados para laboratórios parceiros), por vezes há realização de exames ultrassonográficos e cardiológicos, na dependência da disponibilidade dos profissionais parceiros.
A clínica conta com um setor para que o animal permaneça durante o dia para observação e fluidoterapia. Não há internação durante à noite, indo o paciente para casa neste turno e retornando no dia seguinte pela manhã. Em casos de gravidade maior, encaminho para clínicas 24 horas.
Que recomendações você faria aqueles que pensam em adotar um animal de estimação?
Primeiro que seja pensado se um animal de estimação se encaixa na vida, no espaço disponível, no orçamento e no tempo da pessoa. Bonitos e fofinhos são sem dúvida, mas requerem tempo, atenção, higiene, cuidados como vacinas, vermífugos, consultas periódicas, castração, banhos e por vezes tosa, se for o caso.
E no caso específico do Gato?
Gatos são mais independentes do que cães, mas a pessoa às vezes tem outros felinos e tem que fazer a introdução de um novo integrante de forma gradual, podendo levar até 6 meses para a aceitação do mesmo. A introdução de forma abrupta pode gerar estresse em todos e a manifestação de doenças, principalmente respiratórias e do trato urinário.
Fundamental que o gato a ser introduzido seja testado para FIV (AIDS felina) e FeLV (leucemia felina) para não haver transmissão de vírus e definir o melhor protocolo de vacinação. Na medicina felina existe o lema “miou, testou”, que visa testar todos os gatos e isolar os positivos para tentar o controle das retroviroses e quem sabe um dia, erradicar essas patologias.
Você mencionou o cuidado na introdução de um gato com outro, mas como administrar sua convivência com outra espécie, dentro do mesmo ambiente?
A socialização é feita em etapas e de forma lenta, podendo ser acelerada somente em caso de excelente aceitação de ambos os lados. O adotado deve ficar isolado em um cômodo no momento inicial, com todos os recursos (água, comida, substrato, brinquedos, prateleiras...).O segundo passo seria o reconhecimento de odores e ruídos através da porta, um reconhecendo e aceitando a presença do outro.
Depois serão admitidas brincadeiras por baixo da porta com varinhas e afins, como se um brincasse com o outro. A posteriori haveria o reconhecimento pela fresta discreta da porta. Com boa aceitação, seria a vez de conhecerem o ambiente do outro, porém vazio, sem a presença do mesmo. Tudo correndo bem, a apresentação seria sobre proteção da caixa de transporte, no interior da mesma, com troca de olhares e observação das atitudes de ambas as partes.
A caixa então seria aberta e permitida a saída. Não havendo estresse de nenhuma parte, poderia reconhecer o restante da casa. Cada etapa pode durar dias, sendo possível o retrocesso em casa de necessidade.
Entre cão e gato costuma ser mais rápido, mas deve ser mais cuidadosa na observação. Manter as unhas dos gatos aparadas no primeiro momento para evitar lesões oculares.
De modo geral, tende a ser mais fácil quando pelo menos uma das partes é filhote, seja cão ou gato. É fundamental que a introdução seja bem feita e gradativa para evitar gerar conflitos eternos e estresse permanente.
Qual é a importância da Castração?
A castração consiste na remoção dos testículos no caso dos machos e dos ovários e útero nas fêmeas e ainda é cercada de certo preconceito por parte de algumas pessoas. É importante que seja realizada e que seja em um ambiente apropriado, com a devida higiene e com profissionais preparados.
O procedimento pode evitar gestações indesejadas, sendo uma importante forma de controle populacional em animais domiciliados e principalmente nos errantes, onde evitaria também a disseminação de doenças sexualmente transmissíveis como o TVT (tratado com quimioterapia). Além disso, a castração tira da reprodução animais com patologias ou alterações genéticas com possibilidade de transmissão à prole como displasias, criptorquidismo, demodicose entre outros. Reduz a chance de neoplasmas mamários e em outros sítios.
A castração pode ajudar a reduzir a demarcação de território e pode ter alguma influência no comportamento do pet. Mas costumo dizer que a castração não muda a personalidade, não vai eliminar uma agressividade extrema, mas pode amenizar desde que a mesma tenha influência dos hormônios. É fundamental que no pós-operatório sejam ajustadas a alimentação ao nível de atividade do pet. Muitas vezes um pet castrado requer 25% a menos de calorias do que um pet inteiro, para que a obesidade não ocorra.
Como podemos incentivar a Adoção?
Às vezes recebo a visita de pessoas que querem adotar e não sabem onde buscar. Oportunidade e divulgação são as principais armas para que mais pets encontrem um lar. Esse canal faz um ótimo trabalho nesse sentido. Alguns shoppings fazem feiras de adoção para estimular. As novidades são os cafés para gatos onde as pessoas comem em meio a felinos em busca de um adotante. As publicações nas redes sociais com foto e a história do pet ajudam, sensibilizam e vão estimular alguém do ouro lado da tela.
Que cuidados básicos deve se cercar o Tutor inexperiente?
O ideal seria que levasse ao veterinário para fazer uma avaliação do estado geral do pet e fizesse as recomendações pertinentes quanto aos cuidados, sendo orientado sobre alimentação, ambiente, higiene, vacinas, vermífugos, suplementos. Até que leve para uma consulta, deve oferecer água limpa, filtrada e fresca à vontade, ração adequada para a espécie e idade, sendo adquirida em embalagem fechada (evitando a granel), ambiente limpo com produtos adequados evitando que o pet tenha acesso ao chão ainda úmido, não exagerar em odorizadores de ambiente (podem acarretar patologias respiratórias).
Afinal devo, posso, preciso ou não, dar banho no meu gato?
O gato deve ser apresentado ao banho por volta dos 2 meses, no período de socialização. Eles não gostam da intensidade do jato de água, mas não avessos à água em si. Opte por água morna, jatos de fraca intensidade, produtos de odor discreto (felinos são sensíveis a certos odores) para tornar a experiência positiva.
Gatos não precisam de banhos frequentes, apenas se tiver resíduos grosseiros ou odores estranhos, ou seja, uma sujidade mais aderida, para evitar problemas dermatológicos ou até gastrointestinais pelas lambeduras dos mesmos. Por exemplo após uma obra seria interessante um banho para que não corra o risco de ingerir os resíduos do pelo que podem agredir a saúde. Sujidades do dia-a-dia não requerem banho.
A língua do gato é áspera e facilita a auto higiene nessa espécie. O estresse vem também do não-hábito de tomar banho. Então se não foi acostumado desde filhote, banhos podem gerar grande estresse. No pós-banho o gato se lambe em demasia para devolver o cheiro que lhe foi removido e pode gerar um pico de glicose e pressão que se for muito frequente, pode gerar complicações para a saúde.
A Peculiaridade dos Gatos que o transformou no animal de estimação mais adotado, também apresenta características que exigem maior conhecimento na área da Medicina Veterinária?
Felinos não são cães pequenos ou crianças pequenas. Podem sofrer intoxicações graves e não toleram medicamentos na dose e na frequência de outras espécies. Dipirona deve ser administrada com cautela, paracetamol pode levar um felino a óbito. Lírios são tóxicos em todas as suas partes para felinos (incluindo pólens) podendo gerar insuficiência renal, não devendo estar no mesmo ambiente do gato.
O metabolismo do gato para certas drogas e substâncias é falho e o cuidado vem desse contexto. Humanos e cães tem os carboidratos como fonte de energia, enquanto para felinos as proteínas tem essa função. Gatos nunca devem parar de comer e urinar. Quaisquer motivos que levem o felino a interromper ou reduzir a sua ingestão de alimento, um quadro de hepatopatia grave pode se instalar.
O conhecimento da espécie é fundamental e as suas particularidades devem ser conhecida pelos profissionais veterinários. A medicação por parte dos tutores/responsáveis sem prescrição veterinária deve ser evitada.
Na sua avaliação, em que nível se encontra atualmente, nosso país no processo do bem-estar animal?
Indubitavelmente houve um avanço importante nesse sentido nos últimos anos. Assim como em humanos em que o estresse gera patologias, nos pets não é diferente. Em felinos isso ainda é mais acentuado. Há algum tempo, ainda existia a ideia de que após uma cirurgia o fato de deixar o pet com dor seria algo bom, fazendo com que não mexesse na ferida cirúrgica, o que é uma grave equívoco. O estresse causado pela dor vai agravar o quadro e levar a outras patologias.
Conseguimos avaliar o nível de dor ou estresse de um pet hoje olhando para as feições do mesmo (posição das orelhas e dos lábios, abertura dos olhos, posição do corpo, direção das vibrissas...).
A caixa de transporte do gato deve fazer parte do convívio do gato para evitar traumas e associação com experiências negativas. Hoje usa-se muito o termo cat friendly e muitos veterinários tem adotado as práticas de redução de estresse no atendimento.
Hoje pensamos não somente em estresses pontuais como cirurgia, traumas, visitas, mas no estresse do dia a dia, recomendando para felinos o enriquecimento ambiental através de prateleiras, nichos, brinquedos diversos, e para caninos os passeios e brincadeiras de buscar objetos lançados.
Como Médica Veterinária sempre consultada pela nossa Cuidadora, Claudia Vicente e pela equipe da Quinta Pata, como você vê, particularmente, a questão dos cuidados dispensados aos nossos gatinhos?
Todas as vezes em que tive a oportunidade de atender os felinos do condomínio Alcântara I, nunca me deparei com problemas comuns de pets não domiciliados ou errantes como ectoparasitos (pulgas, carrapatos, piolhos), sarnas diversas...Geralmente dentro do peso ideal (sem estar caquético ou obeso), demonstrando bom estado geral.
Os cuidados são inegáveis e vão além de água e comida. São vermifugados com frequência, comem uma boa alimentação e são medicados adequadamente recebendo cuidados até para doenças crônicas. Alguns sofrem traumas e intoxicações por parte de pessoas contrárias aos cuidados, mas sempre dispõem de socorro médico quando há tempo hábil para tal.
Estamos vendo uma mobilização crescente quanto à preocupação com os animais, impulsionada por leis municipais, estaduais e federais, cuja aplicação plena ainda está muito longe do ideal. Como podemos contribuir neste processo?
A ciência já comprovou desde 2012 que os animais vertebrados são seres sencientes, ou seja, tem sensações e sentimentos de forma consciente, assim sentem dor, prazer, medo, sentimentos diversos, incluindo sensações positivas e negativas. Nesse âmbito, devem estar livre de fome, sede, desconforto, dor, doenças, medo, angústia e ter liberdade para expressar comportamentos normais da espécie. Faz-se necessário que todos estejam engajados na causa, seja respeitando os direitos dos animais ou denunciando os abusos. Temos que garantir que a lei seja cumprida.
Recentemente, em alguns Estados, como São Paulo e Bahia, ocorreram casos em que o Condomínio emitiu nota proibindo a alimentação de animais dentro do seu pátio. O fato gerou polêmica e grande repercussão, indo parar nas barras dos tribunais. A Justiça reconheceu o direito dos animais de não só permanecerem, como também de serem ali alimentados, sendo ainda reconhecidos como de responsabilidade do condomínio. Como você vê decisões jurídicas como esta?
É um assunto polêmico que geralmente polariza opiniões. O grupo dos defensores e o grupo dos contrários a presença deles. Mesmo os que não gostam, não tem o direito de agredir ou causar injúrias a esses animais. O direito dos animais deve ser assegurado. Como em todos os ambientes, animais estão sujeitos a abandonos, seja por moradores ou ex-moradores, ou por algum abandonado que se reproduz e a população aumenta.
Estão ali acredito que não por vontade de um morador, ninguém decidiu criar gatos no pátio do condomínio. Basta um casal inicial em condições de saúde para a população crescer de forma exponencial em um curto intervalo de tempo. E já que estão, tem direito à alimentação, cuidados, vermífugo, ectoparasiticida, condição mínima de saúde.
E devem ser castrados para evitar o aumento desgovernado da população de felinos. Ninguém tem o direito de jogar a comida e a água fora ou atropelar, chutar, envenenar e outras atrocidades contra esses pets. Devem ser denunciados e punidos segundo a lei 14.064/2020.
Dentro do seu conceito de vida, o que precisamos para um melhor relacionamento com nossos animais?
Educação é a chave. Desde a infância todos devem ser apresentados aos animais e ensinados sobre respeito a eles. Melhor, vivenciado exemplos positivos de como manejar, compreender e proteger esses seres que são tão importantes na vida das pessoas e que afloram sentimentos tão verdadeiros por parte daqueles que tem oportunidade de conviver com um pet. Crianças que respeitam serão cidadãos que vão assegurar os direitos dos animais. O mundo está carente de respeito, seja a outro humano ou animal.
Alguma consideração final?
Um pet sempre alegra a casa e as pessoas, sendo muito companheiros. Relatos de pessoas se conseguiram superar uma depressão ou ansiedade, outras se tornaram mais sociáveis, mais felizes e com a pressão arterial mais controlada, e que até tiveram a vida salva por atitudes do pet que alertaram sobre o perigo em que a mesma se encontrava. Adotar pode mudar a vida do pet e da pessoa que o aceita em casa e na sua vida. Um companheiro para todas as horas.
Adotem, mas com responsabilidade, sempre. Pensem nos anos que o pet pode viver e garantam que esses anos sejam vividos com tranquilidade, saúde, lazer, minimizando estresse e prevenindo enfermidades.
Todos ganham.
"Primeiro que seja pensado se um animal de estimação se encaixa na vida, no espaço disponível, no orçamento e no tempo da pessoa".
"Às vezes recebo a visita de pessoas que querem adotar e não sabem onde buscar. Oportunidade e divulgação são as principais armas para que mais pets encontrem um lar. Esse canal faz um ótimo trabalho nesse sentido".
"Felinos não são cães pequenos ou crianças pequenas. Podem sofrer intoxicações graves e não toleram medicamentos na dose e na
frequência de outras espécies".
"Assim como em humanos em que o estresse gera patologias,
nos pets não é diferente. Em felinos isso ainda é mais acentuado".
“A ciência já comprovou desde 2012 que os animais vertebrados são seres sencientes, ou seja, tem sensações e sentimentos de forma consciente,
assim sentem dor, prazer, medo, sentimentos diversos, incluindo sensações positivas e negativas".
"Ninguém tem o direito de jogar a comida e a água fora ou atropelar, chutar, envenenar e outras atrocidades contra esses pets.
Devem ser denunciados e punidos segundo a lei 14.064/2020".
"Educação é a chave. Desde a infância todos devem ser apresentados aos animais e ensinados sobre respeito a eles. Melhor, vivenciado exemplos positivos de como manejar, compreender e proteger esses seres que são tão importantes na vida das pessoas e que afloram sentimentos"...
"Adotar pode mudar a vida do pet e da pessoa que o aceita em casa
e na sua vida. Um companheiro para todas as horas.
Adotem, mas com responsabilidade, sempre".
AGORA EM NOVO ENDEREÇO
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de segunda à sexta-feira. O horário do início do atendimento pode variar com o dia, mas o
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